Notícias do Pomar

Melancia: curiosidades sobre a produção da fruta em Santa Catarina

Produção no Estado é tão forte que há duas capitais: Caxambu do Sul, Capital da Melancia, e Jaguaruna, capital dos produtores da fruta


Você sabia que o Sul do Brasil é o segundo maior produtor de melancia do país? A maior produção está no Nordeste, mas por aqui a fruta tem ganhado destaque - principalmente na agricultura familiar. Para se ter uma ideia, a produção catarinense gira em torno de 40 milhões de reais a cada safra.

Caxambu do Sul, por exemplo, é a Capital Estadual da Melancia, enquanto Jaguaruna é a Capital Catarinense do Produtor de Melancia - alguma dúvida que essas são as principais produtoras do estado?

A economia do Caxambu do Sul, que tem pouco mais de 4.600 habitantes, baseia-se na agricultura, caracterizada por pequenas propriedades. O município passou a ser reconhecido oficialmente como capital da melancia em Santa Catarina em 2001.

Anos antes, os agricultores foram aderindo ao plantio dessa fruta graças a programas de incentivo com distribuição de sementes e assistência técnica. Assim, a produção chegou a 180 hectares plantados. A construção da barragem na foz do rio Chapecó reduziu a área para 80 hectares, mesmo assim, pelo menos 70 produtores continuaram investindo no plantio de melancia e colhendo cerca de 700 toneladas por ano.

Caxambu do Sul é tão importante para a história da fruta em Santa Catarina, que celebra a Festa da Melancia e reverte os lucros para o hospital da cidade. Além de ser pioneira, inspira outros municípios - como Jaguaruna.

O plantio da melancia sustenta muitas famílias na região de Jaguaruna. As técnicas de manejo e o investimento em tecnologia garantem a manutenção dessa cultura agrícola que passa de geração para geração.

A produção da fruta em Jaguaruna alcança 15 mil toneladas por ano nos 600 hectares plantados. Por causa da grande produção em 2021, o município ganhou o título de Capital Catarinense do Produtor de Melancia. 

Investimento em tecnologia - Filipe Pacheco, produtor de Jaguaruna, conta que a sua relação com a melancia começou há muitos anos, com o avô. Eles tinham uma pequena produção, com um ponto de venda que ficava na estrada geral. De 10 anos para cá, o investimento foi aumentando, até que a produção de Filipe se tornou uma referência no mercado brasileiro.

O produtor cresceu brincando nas plantações, continuou o legado que o avô deixou, mas resolveu ir mais fundo nesse mundo para melhorar ainda mais o produto final. Ele dividiu o seu tempo em plantar, colher e estudar.

Uma das tecnologias implementadas por Filipe foi a irrigação. O sistema já está no quarto ano de uso e com ele é possível vencer os problemas ocasionados pela estiagem. O funcionamento é feito por aspersão com carretel autopropelido e fitas de gotejamento - dessa forma é possível irrigar áreas de diferentes formatos e declividades, sem exigência de mão de obra.

E vem mais investimento por aí: nesse ano o produtor vai instalar placas solares e calhas para captação de água, tornando a lavoura totalmente sustentável. Investimentos que também aconteceram por conta da parceria com a Epagri.

Emerson Evaldi, extensionista rural da Epagri, conta que há oito anos não existia irrigação nos cultivos e que, ao ouvirem os produtores, decidiram instalar na Epagri. Dessa forma, eles identificaram qual era o ganho proporcionado pela irrigação e alguns produtores começaram a instalar em suas lavouras - vendo que de fato havia um ganho maior para eles. Segundo ele, a irrigação hoje está em cerca de 100 hectares cultivados em Jaguaruna.

No campo da Epagri de Jaguaruna, a pesquisa é uma das ações mais importantes. Diariamente o Emerson monitora a situação das frutas que foram plantadas e tudo o que tem um bom resultado é repassado aos produtores.

A melancia não pode ser plantada no mesmo lugar por duas safras seguidas e o solo precisa descansar por três ou até quatro anos - e há muitas pesquisas para achar uma alternativa para reduzir esse tempo.

" - A alternativa que a gente tem visto no momento é a melancia enxertada sobre um porta-enxerto resistente à fusariose. Ou seja, o produtor que usar essa essa muda enxertada não terá preocupação, porque nessa muda a fusariose não causará nenhum dano. E isso dá uma segurança maior para o produtor" - explica Emerson.

Já existem 10 hectares com melancias enxertadas e falando em alternativas, a propriedade do Filipe Pacheco tem investido em melancias sem sementes, que estão conquistando cada vez mais espaço na mesa dos consumidores.

O produtor percebeu uma mudança no cenário brasileiro: com famílias menores, as melancias sem sementes entregam mais praticidade, são consumidas em menos tempo e evitam o desperdício. 

Produtos derivados da melancia ganham mercado - Muitos conhecem e consomem a melancia somente in natura, mas os produtos derivados da melancia estão ganhando cada vez mais mercado.

A produtora Maria Garcia, de Jaguaruna, é a prova de que a fruta é mais versátil do que muitos imaginam: é possível usá-la em diversos preparos e, inclusive, sua casca. Com ela, Dona Maria faz picolé, suco de melancia, paçoca, cocada da polpa da fruta, ketchup de melancia, torta e até caponata.

Além de gostosa, a fruta é muito saudável. Segundo a nutricionista Mariele Chedin, a melancia é composta por 90% de água e também conta com vitamina C, vitamina A e licopeno - também presente no tomate. Inclusive, cada parte dela tem uma função específica importante para nosso organismo.

"- A casca pode ser usada para molho, refogado, cocada. É uma fruta que está mais barata porque é sua época, então a gente como nutricionista prioriza isso: as pessoas usarem as frutas da estação" - completa.

Com a produção de melancia crescendo cada vez mais e muitos produtores e pesquisadores se unindo em busca de melhoramentos para avançar no mercado, é certo que o futuro da fruta é promissor em Santa Catarina. *NDMais/E se você quiser saber mais sobre ela, aproveite e assista ao episódio especial do programa Agro, Saúde e Cooperação. Projeto desenvolvido pelo Grupo ND, em parceria com a OcescAuroraSicoobSindArroz SC e Fiedler Automação Industrial.

Panorama da Fruticultura Brasileira: MelanciaNo Brasil, a fruticultura e a olericultura são atividades econômicas geradoras de riqueza e distribuidoras de renda. O país é o terceiro maior produtor mundial de frutas. A produção, em 2019, foi estimada em 41 milhões de toneladas, dos quais 3% a 5% foram exportados. A Fruticultura responde por 6 milhões de empregos diretos, o que equivale a 27% dos empregos gerados pela agricultura nacional, ocupando uma área em torno de 2,4 milhões de hectares.

Em 2019, a Fruticultura brasileira cresceu 16% em volume nas exportações de frutas. Destaque para a exportação de manga, com aumento de 30%, melão com 27%, uva com 19% e limão com 10%. melancia (38% em relação ao ano de 2018), banana e abacate apresentaram também crescimento considerável no volume exportado. A melancia é uma das principais frutas em volume de produção mundial e encontra-se entre os dez produtos hortifrutícolas mais exportados (valor de US$ 43.891.165).

A melancia é considerada a terceira fruta mais produzida no Brasil, de acordo com o Agrianual 2018. A produção mundial de melancia tem apresentado um crescimento contínuo, sendo que o Brasil é considerado o quarto maior produtor mundial, representando cerca de 2% da produção total. A China ocupa o primeiro lugar (79.043.138 ton), seguido por Turquia (3.928.892 ton) e Irã (3.813.850 ton), que são responsáveis por aproximadamente 73% da produção mundial de melancia (FAO 2018). 

1. Produção brasileira - A produção brasileira de melancia ocupa uma área de 105.064 hectares e produção de 2.314.700 toneladas. O Nordeste lidera em termos de área plantada e de produção, com 36.864 ha e uma produção de 663.458 toneladas, seguido pelas regiões Sul, Norte, Centro-Oeste e Sudeste do País. Dentre os Estados, o Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional (18.551 ha). Dentre as Regiões produtoras, O Nordeste lidera em termos de área colhida (40.876 ha) e de produção (796.967 ton), com destaque para o Rio Grande do Norte (391.528 ton), Bahia (167.337 ton) e Pernambuco (97.975 ton), que juntos representam 82,41% da produção da região.

Em seguida vem a região Sul, sendo que Rio Grande do Sul (283.640 ton), Paraná (85.968 ton) e Santa Catarina (46.012 ton) representam 18,54% da produção de melancia do País. O Norte (404.843 ton) tem uma produção próxima, sendo responsável por 18,06% do total nacional, enquanto que as regiões Sudeste e Centro-Oeste representam 14,29% e 13,52%, respectivamente, da produção de melancia no Brasil. Vale ressaltar que essas regiões apresentam Estados que não têm tradição na produção comercial da cultura, com é o caso do Rio de Janeiro e Distrito Federal. 

2. Produtividade e rentabilidade - A produtividade média nacional da melancia é de 21,97 ton/ha-1, abaixo da média mundial (28,16 ton/ha-1), o que evidencia a carência tecnológica, sinalizando a necessidade de maiores investimentos na pesquisa agronômica, com vistas a eliminar e/ou reduzir os gargalos do sistema produtivo que comprometem a produtividade e a qualidade do produto.

Entretanto, na contramão da baixa produtividade nacional, alguns municípios se destacam por apresentarem elevada produtividade, como é o caso de Abaeté (MG) (65,00 ton/ha-1), Cacique Doble (RS) (60, 00 ton/ha-1) e Iperó (SP) (59,06 ton/ha-1). Entre as regiões, a Centro-Oeste apresenta a maior produtividade média do País (32,19 ton/ha-1), destacando-se Goiás com 40,54 ton/ha-1.

No Estado de Goiás, mais da metade das melancias produzidas são oriundas do município de Uruana (produtividade média de 50,00 ton/ha-1), município que é destaque nacional e na América Latina com relação a qualidade, a organização e a rentabilidade da produção. Entre as razões para o sucesso de Uruana na produção de melancia, a principal é a existência de mercados garantidos em Goiânia, Brasília, Minas Gerais, São Paulo, Pará, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, dentre outros Estados. Além de países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai.

Segundo a Hortifruti/Cepea (2020) a rentabilidade do cultivo da melancia foi positiva em 2019. Assim, a oferta do produto foi bem distribuída durante o ano, gerando melhores preços no mercado. O preço médio nacional da melancia graúda no período de janeiro a novembro de 2019 teve um aumento de 13% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

No tocante às flutuações de preços no mercado, nota-se que os menores preços acontecem nos meses de janeiro e abril, e pode-se considerar que não existe mais entressafra de melancia no Brasil. Contudo, o mercado da melancia segue as mesmas tendências de anos anteriores, evidenciado pelos índices sazonais de preços e quantidades, com um mercado praticamente estável.

Desta forma as projeções para o cultivo e produção da fruta tem se apresentado favoráveis, por conta dos bons resultados financeiros em 2020, espera-se recuperação de parte da área de melancia em 2021, principalmente em Goiás e no Tocantins, cujas safras já foram finalizadas com boa margem. Em São Paulo, problemas com a seca que vem afetando a safra principal devem limitar investimentos, impactando na área plantada da próxima safrinha.

Nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, a maior demanda europeia deve garantir bons envios e rentabilidade positiva em função da alta do dólar. Já no caso do Rio Grande do Sul, as expectativas são de menor oferta na safra 2020/21 (devido à redução da área), permitindo boa rentabilidade no período.  *Portal Agroinsight. 

3. Preferências do mercado - Com relação à preferencia de consumo, no que se refere à aparência dos frutos, as melancias devem apresentar as seguintes características mínimas de qualidade:

a) inteiras; b) isentas de podridões ou alterações que as tornem impróprias para consumo; c) limpas, praticamente isentas de matérias estranhas visíveis; d) praticamente isentas de parasitas ou de sua ação; e) firmes e suficientemente maduras, de forma que a cor e o sabor da polpa devem corresponder a um estado de maturação suficiente; g) não rachadas; h) isentas de umidade externa anormal; i) isentas de odores e/ou sabores estranhos. Mas, ao abrir os frutos, os consumidores desejam encontrar uma polpa de cor vermelha intensa e sabor doce (sólidos solúveis de 11 a 12ºBrix).

Bibliografia e links relacionados: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL. Balanço 2019 e perspectivas 2020. Brasília: CNA, 2020. Disponível  em: https://www.cnabrasil.org.br/paginas-especiais/balanco-2019-e-perspectivas-2020. DIAS, R.C.S; SANTOS, J.S. Panorama nacional da Produção de Melancia. Informe Técnico, CAMPO & NEGÓCIOS in: Hortifruti, 2019. MAGALHÃES, D.S.; SOUZA, D.C. Melancia: A terceira fruta mais produzida no País. Campo e negocio (on line), 2020. Disponível em: https://revistacampoenegocios.com.br/melancia-a-terceira-fruta-mais-produzida-no-pais/. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. AGROSTAT - Estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro. Brasília: MAPA, 2020. Disponível em: http://indicadores.agricultura.gov.br/index. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Impacto da Pandemia na Cultura da Melancia. Instituto de Economia Agrícola (IEA). Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=14808.

Comentários