Artigos Técnicos

Conservação de morangos revestido com cobertura comestível

Estratégias de pós-colheita para aumentar a vida útil de frutas como morango são extremante importantes pois, auxiliam na redução de perdas


O morango é um pseudofruto muito apreciado por suas caraterísticas sensoriais e nutritivas. No entanto, é altamente perecível tendo curta vida de prateleira. Seu consumo se dá na forma in natura, na fabricação de doces, geleias, sobremesas, entre outros. O Brasil produz anualmente em torno de 160 mil toneladas de morango.
Embora o morango seja considerado não climatérico, ou seja, não amadurece fora da planta em pós colheita, este possui alta intensidade respiratória/metabólica. Além disso, não possui uma camada protetora (epiderme) muito espessa que possa proteger contra perda de água, desidratação e perde massa fresca. Estas características o qualificam como fruto de alta fragilidade e portanto, dificuldades de manejo e conservação. Para agravar esta condição, os frutos são propensos a ataque por fungos (Botrytis, Colletotrichum, Penicillium, Phomopsis e Rhizopus) e por consequência aumento dos cuidados de manejo pós-colheita.

O Colletotrichum sp. é conhecido por causar a antracnose no morango e o Botrytis cinerea o mofo cinzento.
Deste modo, as estratégias de pós-colheita para aumentar a vida útil de frutas como morango são extremante importantes pois, auxiliam na redução de perdas. Entre as alternativas de conservação pós-colheita, a aplicação de revestimentos comestíveis tem sido adotada já há alguns anos. Os filmes reforçam a camada protetora, reduzindo perda de massa e diminuindo taxa de transpiração. Estes filmes, utilizados para o revestimento, normalmente combinam polímeros para ampliar a qualidade e funcionalidade. Porém, ainda mais recente, lança-se mão da incorporação de agentes antimicrobianos naturais.
Entre agentes antimicrobianos temos como potenciais: babosa (Aloe vera), capim limão (Cymbopogon citratus) e gengibre (Zingiber officinalle), os quais seus extratos têm sido utilizados e relatados na literatura, já algum tempo. Especificamente, o carvacrol é um composto isolado de óleo essencial do orégano (Origanum vulgare) e que também possui propriedades antimicrobianas. Se considerarmos estas propriedades aliadas aos revestimentos comestíveis, vislumbra-se uma alterativa interessante para conservação de morango e também potencialmente para outras frutas.

Portanto, nosso grupo de pesquisa testou a utilização de extratos de Aloe vera, Cymbopogon citratus e Zingiber officinalle contra o Colletotrichum sp. e carvacrol incorporado em revestimentos comestíveis à base de uma mistura de amido de mandioca e gelatina. Estudamos esta atividade contra o Colletotrichum sp e Botrytis cinerea fungos deteriorantes importantes do morango. Esta estratégia mostra uma alternativa ao uso de fungicidas que podem deixar resíduos e serem nocivos a saúde.
Os revestimentos com compostos naturais atendem o apelo pela saudabilidade e a busca por alimentos com uso mínimo ou zero de tratamentos químicos com uso de agentes sintéticos. Os testes realizados in vitro demonstram efeitos antifúngicos para os três extratos vegetais e carvacrol utilizados contra o Colletotrichum sp e Botrytis cinerea.

Obviamente, que os extratos, por não serem concentrados, necessitam de uma quantidade maior para inibição do microrganismo comparando-se ao composto puro carvacrol. O extrato de gengibre se destacou por mostrar maior ação fungicida, tornando-o um promissor antifúngico de uso comercial. O extrato possui inúmeras moléculas que podem ter diferentes reações e funções, não necessariamente ação antifúngica. Neste caso, para aplicação no fruto diretamente, é necessário concentração e isolamento das moléculas com potencialidade ativa. Nos ensaios realizados com morangos (cultivar Albion) revestiu-se os frutos com uma solução de amido e gelatina com carvacrol incorporado, e posterior aspersão de 105 esporos/mL do microrganismo Colletotrichum sp e Botrytis cinerea (testes independentes foram conduzidos por fungo). Os morangos foram colocados em condições de armazenamento comercial (embalados em bandejas de polipropileno e à temperatura ± 23 °C). Nos testes realizados, estudando a eficácia antifúngica do carvacrol no revestimento comestível, os resultados mostraram uma inibição do aparecimento de fungos e conservação dos morangos, por pelo menos 5 dias (Figura 1). Os frutos não tratados com revestimento tiveram aparecimento de podridões já no segundo dia (Figura 2).
De maneira geral, o carvacrol mostrou-se como um ótimo antifúngico no controle do Colletotrichum sp. e Botrytis cinerea, já que os microrganismos foram sensíveis a sua ação tanto nas análises in vitro e quanto na in vivo (fruto). Especificamente, o revestimento que continha 0,3 mg de carvacrol/g solução mostrou boa atividade antifúngica, pois foi capaz de retardar a incidência de podridões como a antracnose causada pelo Colletotrichum sp. Por outro lado nesta concentração de carvacrol a ação antifúngica do  revestimento foi superior contra Botrytis cinerea. É importante destacar que, nesses estudos demonstra-se as potencialidades do uso de compostos ou moléculas naturais capazes de auxiliar na conservação não só de morango, mas de frutas em geral. A considerar os índices de perdas deste tipo de alimento, temos um campo promissor de utilização dessas alternativas na conservação pós-colheita de frutas.

Felipe Guilherme Brunetto Bretschneider*, Cláudia Moreira Santa Catharina*, Ana Claudia Aparecida Lopes*1, Claudio Roberto Novello*1, Ana Paula Romio*, Vania de Cassia da Fonseca Burgardt*, Alessandra Machado-Lunkes*1, Luciano Lucchetta*1 *Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campus Francisco Beltrão, PR. 1Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos - *Prof. Dr. Luciano Luchetta - (46) 99141-7791 - [email protected]

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