Como parte de uma colaboração entre o CIRAD e o Genoscope (o centro nacional francês de sequenciamento), os genomas de sete ancestrais-chave da banana cultivada foram recentemente sequenciados e montados. Este novo conjunto de referência é uma ferramenta fundamental para localizar genes associados a características de interesse para o seu melhoramento e também lança luz sobre os fatores genômicos que impulsionaram a especiação desta planta nativa do Sudeste Asiático. Os resultados foram publicados na revista Nature Communications
No início de 2025, uma equipe liderada pelo CIRAD e pelo Genoscope publicou na Nature Communications os genomas sequenciados, cromossomo por cromossomo, de sete ancestrais-chave da banana cultivada. O resultado traz ordem a um quebra-cabeça evolutivo ? como a Musa se formou ? e, acima de tudo, fornece aos melhoristas um mapa de alta precisão para encontrar genes responsáveis ??pela produtividade, resistência a doenças e qualidade pós-colheita.
As bananas que comemos são o produto de hibridizações ancestrais entre espécies e subespécies do Sudeste Asiático. Seus genomas são mosaicos: combinam segmentos herdados de nove grupos genéticos, incluindo dois ancestrais ?desconhecidos? que desafiam a ciência há anos. O estudo confirma que um desses misteriosos contribuintes corresponde à Musa acuminata subsp. halabanensis; para o segundo, os dados apontam para uma afinidade com a subsp. zebrina. Desvendar essa genealogia não é mera curiosidade acadêmica: indica de qual ancestral cada característica útil provém e como aproveitá-la em programas de melhoramento genético.
Na declaração oficial, a geneticista Angélique D'Hont resume a prioridade prática: ?O sabor não é a característica mais difícil; o que procuramos principalmente são altos rendimentos, resistência a doenças e qualidades pós-colheita?. Essa lista é bem fundamentada. Duas doenças (mancha foliar por Cercospora e murcha de Fusarium TR4) estão pressionando os produtores em todo o mundo, e a homogeneidade genética da cultura aumenta sua vulnerabilidade: aproximadamente 50% da produção global é de Cavendish, uma cultura ?clonada?.
Como essa descoberta foi alcançada? Os autores geraram conjuntos cromossômicos contínuos para diversas subespécies selvagens e compararam esses "conjuntos mestres" entre si e com cultivares modernas. Essa abordagem permitiu que eles vissem claramente grandes rearranjos cromossômicos (translocações e inversões) e diferenças nos centrômeros que, cumulativamente, favoreceram a especiação dentro do gênero Musa. D'Hont resume da seguinte forma: "Conseguimos caracterizar o que causou as irregularidades nas correspondências observadas por pesquisadores desde a década de 1940."
Para o melhoramento genético, ter genomas ancorados em cromossomos significa que não há mais necessidade de buscar "às cegas". O autor principal, Guillaume Martin, explica isso de forma muito concreta: "Podemos analisar as regiões do genoma onde as características desejadas estão localizadas... [e] isso economiza muito tempo". Em outras palavras, o sequenciamento não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta: ele permite a anotação automática de genes, a comparação de variantes e o direcionamento direto de regiões candidatas para uma característica sem perda de tempo.
O consórcio estabeleceu um padrão elevado: ?Agora temos um genoma de referência para os nove principais grupos genéticos que deram origem às bananas cultivadas?, afirma Martin, enfatizando que o conjunto completo orientará as estratégias de melhoramento genético. Paralelamente, o CIRAD garantiu financiamento para o Bana+ (plano Ecophyto), ?um projeto maior que utilizará esses recursos em seu programa de melhoramento genético em Guadalupe, para desenvolver variedades que combinem qualidade da fruta, resistência a doenças e alta produtividade?, acrescenta D'Hont.
Por que tudo isso é importante para os consumidores e para a indústria? Porque a transição de descrições gerais para modelos cromossômicos acelera a tomada de decisões: selecionar genitores com os alelos corretos, mapear a ancestralidade de uma cultivar (por exemplo, Cavendish) e reconstruir uma receita genética semelhante, mas com genes de resistência "introgressados" onde necessário. O próprio artigo científico enfatiza que essas referências são cruciais para aprimorar os conjuntos de cultivares triploides e para desenvolver estratégias que aproveitem ou contornem rearranjos que limitam a recombinação.
Ainda há um longo caminho a percorrer, é claro. O segundo ancestral desconhecido está parcialmente identificado, e novas amostras podem refinar sua descoberta. Mas o grande avanço já aconteceu: de fragmentos dispersos a atlas cromossômicos que explicam a origem da banana e, sobretudo, reduzem o tempo entre uma hipótese genética e um campo com plantas mais saudáveis ??e produtivas. Para uma cultura global que alimenta centenas de milhões de pessoas e cujo negócio depende de rentabilidade e resiliência, essa é uma diferença tangível. E agora existe um roteiro a seguir. *Matéria-25/09/2025/Fonte: Chile Bio/Agroavances/Bolívia.