Software é desenvolvido para monitorar traça do tomate

O protótipo pioneiro poderá ser usado em smartphones para ajudar os produtores na tomada de decisão

24/08/2022 12:31
Software é desenvolvido para monitorar traça do tomate

Estudante da Universidade Federal de Lavras (UFV) no sul de Minas Gerais, desenvolve protótipo de software para monitorar a traça do tomateiro. A traça do tomateiro (Tuta absoluta) é uma das principais pragas que afetam a cultura do tomate e gera prejuízos ao tomaticultor. A praga afeta desde as folhas até os frutos, o que causa grande prejuízo econômico. 

A inovação tecnológica de monitoramento está entre os vencedores do 19º Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica, promovida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Allana Guedes, do curso de Agronomia é a autora do software. A acadêmica é estagiária do Laboratório de Manejo Integrado de Praga, do Departamento de Entomologia (DDE). 

O protótipo pioneiro poderá ser usado em smartphones para ajudar os produtores na tomada de decisão. O objetivo é que os agricultores alimentem o sistema com dados sobre a plantação, população de traças, a fim de determinar custos e melhorar as formas de controle, além de reduzir aplicações de inseticidas. A Tuta absoluta aparece especialmente em períodos secos e ocorre durante o ano todo. *Agrolink/Iara Siqueira

Saiba como controlar a traça do tomateiro - A traça do tomateiro (Tuta absoluta) é uma das principais pragas que afetam a cultura do tomate. Ela aparece especialmente em períodos mais secos, e é responsável por causar danos significativos nas plantas (desde às folhas até os frutos), podendo acarretar em enormes prejuízos econômicos aos horticultores. Sua presença também afeta a sanidade dos materiais, uma vez que o ataque da traça pode facilitar a contaminação por patógenos. Para evitar a praga, produtores devem ficar atentos aos menores indícios de seu aparecimento, evitando e controlando proliferação o quanto antes.

Os adultos da traça do tomateiro são pequenas mariposas que apresentam uma coloração acinzentada e cerca de 10mm de comprimento. Devido ao cheiro das cultivares do tomate, são atraídas para ambientes abertos e até mesmo estufas. Apesar de o ambiente protegido (estufas) apresentar vantagens em relação a entrada de pragas, quando a traça se instala em uma estufa encontra as condições perfeitas para se reproduzir, podendo ter o ciclo encurtado (de 30 para 20 dias), o que exige uma ação ainda mais rápida dos horticultores.  Entretanto, a vantagem do ambiente fechado é a facilidade no monitoramento e controle da praga, já que a possibilidade de surgirem novas traças adultas é menor.

As traças se proliferam rapidamente, em um ciclo de cerca de 20 a 30 dias. Ao longo do dia, as traças adultas se escondem nas folhas do tomateiro ou de cultivares hospedeiras, e nos períodos de manhã e fim de tarde (mais frescos) acasalam e depositam os ovos nas cultivares. Cada fêmea pode depositar de 55 a 130 ovos durante 3 a 7 dias. Eles são depositados principalmente nas folhas do terço superior da planta, mas também podem ser encontrados nas hastes, flores e frutos. Possuem formato arredondado e coloração amarelada, mudando para marrom quando estão próximos de eclodir, fenômeno que ocorre de três a cinco dias após a postura.

A traça coloca seus ovos nas folhas, hastes, flores e frutos do tomateiro. Eles eclodem e se transformam

em lagartas que se alimentam das folha e frutos, fazendo ?túneis? dentro destes e danificando a lavoura - Foto: Canal do Horticultor

Deles surgem as lagartas (estágio da praga que ocasiona danos), que tem de 6mm a 10mm, aproximadamente. Elas se abrigam na parênquima foliar, nos frutos ou nas ápices das hastes, onde permanecem de oito a dez dias, quando se transformam em pupas e dão origem a novas mariposas.

As lagartas, responsáveis pelos danos na lavoura, abrem galerias nas folhas e se alimentam do interior dessas. Atacam da mesma forma o caule e os frutos. Nos locais afetados, observam-se muitos pontinhos pretos, que são as fezes destes insetos. Em ataques severos elas podem destruir completamente as folhas do tomateiro, o que ocasiona no secamento dos folíolos e consequente morte das plantas.

Os frutos danificados ficam impróprios para comercialização, além de ser facilitada a contaminação por patógenos (fungos e bactérias). Já as plantas ficam com a capacidade de produção reduzida, havendo queda de frutos e maturação forçada dos que permanecem.

Saiba como controlar a traça do tomateiro - Uma das recomendações de Claudio Nunes, gerente de desenvolvimento de produto da ISLA, é que os produtores invistam em áreas protegidas, que podem evitar a entrada massiva da traça. O ideal é que em épocas mais secas (as preferidas dos insetos) eles preparem armadilhas na entrada das estufas, evitando um ataque maior e monitorando a presença das mariposas.

Para que o resultado seja efetivo, é fundamental que os produtores trabalhem dentro de dois princípios: monitoramento e controle. O monitoramento é para que seja possível perceber e presença da traça nos ambientes, podendo agir o quanto antes para evitar a sua proliferação e ataques mais severos à lavoura. Ele pode ser feito com armadilhas de ferormônio ou até mesmo armadilhas coloridas.

O controle pode ser feito de forma biológica ou com químicos, mas é importante que o produtor leve em consideração que a Tuta Absoluta tem um nível de resistência muito alto, o que torna alguns produtos ineficientes e necessária a rotação de inseticidas com grupos químicos diferentes. Hoje, o mais indicado é o controle biológico com o Trichogramma, uma mini vespa que parasita e se alimenta dos ovos da mariposa, interrompendo o seu clico e garantindo que não nasçam novas traças. Ele pode ser associado a outros métodos, como a aplicações do inseticida biológico Bacillus Thuringiensis.

Uma das medidas adotadas para reduzir a população da traça é limitar a oferta de alimentos para o inseto, o que pode ser realizado com a fixação de período permitido para plantio. Em Goiás, por exemplo, produtores do tomate indústria adotam um calendário de plantio anual, mantendo um período livre do plantio durante três meses. Também é indicado que se evitem os plantios sucessivos na mesma área e que seja feita a destruição dos restos culturais após a colheita. Isto pois a manutenção dos restos culturais permite que as pupas (que se fixam nas folhas e no caso do tomate rasteiro até mesmo no solo) se desenvolvam e originem mais traças, que podem se alastrar para novas áreas.

Um dos cuidados essenciais é com as culturas hospedeiras. Muitas traças são encontradas em outras culturas, como a de pimentão, por exemplo. Elas ficam ?escondidas? nestes locais, apresentando um risco para produtores que se empenharem em resolver o problema apenas nos tomateiros. O indicado é eliminar as plantas hospedeiras.

irrigação por aspersão ou pivô central também pode auxiliar no controle da traça, uma vez que derruba até 30% dos ovos, contribuindo também para a mortalidade das pupas que estão no solo e interferindo na capacidade de multiplicação dos insetos.

De qualquer forma, cada produção tem as suas particularidades quando à solo, adubação e condições para as culturas se desenvolverem. Ao buscar uma solução para a presença da traça, é recomendado que produtores procurem profissionais capacitados para a recomendação, que poderão identificar as singularidades de cada lavoura e indicar o tratamento mais adequado. *Canal do Horticultor

Fontes: Entrevista com Claudio Nunes, gerente de desenvolvimento de produto da ISLA Sementes. Roda de conversa com Camila Correia Vargas e Matheus Gomes, da empresa Bioin e com o Eng. Agrônomo e pesquisador Nelson Weber/Embrapa Hortaliças - Veja mais: https://www.youtube.com/watch?v=V9hmnLL17gM&t=12s