Vinho brasileiro ganha espaço

O Brasil passou a ser o 14º mercado de vinhos mais atraente do mundo, segundo a Wine Intelligence

09/12/2021 16:09
Vinho brasileiro ganha espaço

Números mostram resultados positivos para vinhos e espumantes no mercado nacional. Os espumantes cresceram cerca de 60% nos primeiros nove meses do ano e devem ser os protagonistas do ano - Comparado a 2020, o país subiu 12 posições. A transição para o consumo doméstico, por conta da covid-19, tem grande impacto nesse aumento significativo no último ano. De acordo com a União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA), o aumento no consumo de vinho no país foi de 41,15% em relação ao mesmo período em 2020.

Os bons números de 2020 motivaram a realização de uma nova campanha promocional idealizada pelo Conselho de Planejamento e Gestão da Aplicação de Recursos Financeiros para Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Uvibra-Consevitis-RS) e desenvolvida pela agência E21, intitulada ?Vinho pode tudo. E tudo pede vinho?. A peça principal do conceito foi rodada no Rio de Janeiro e mostra, de forma leve e divertida, brasileiros em situações do dia a dia, em que vinhos e espumantes são sempre excelentes opções para celebrar. O investimento total da campanha é de aproximadamente R$ 5 milhões.

De acordo com o gerente de Promoção para os mercados interno e externo da Uvibra-Consevitis-RS, Rafael Conceição, a estratégia é evidenciar vinhos e espumantes como bebidas que devem estar no cotidiano, desde momentos simples até grandes celebrações. ?O vinho brasileiro, que é rico e plural como o nosso País, conquista cada vez mais espaço e se consolida como a bebida do momento, portanto merece ser degustado e celebrado quando, como e aonde for?, enfatiza.

A ação é apresentada em circunstância propícia, quando mais pessoas têm ingressado no mundo do vinho. ?O ano de 2020 foi atípico, em função da pandemia, mas comprovou que existe um amplo público, acima de 18 anos, a ser conquistado pelo setor vinícola nacional?, aponta Conceição. Relatório anual da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) mostra que em 2020 o Brasil foi o país que mais cresceu no consumo, cerca de 18,4%, quando comparado a 2019. Dados da Ideal Consulting também reafirmam o bom momento, ao identificar que a comercialização cresceu 31%, saltando de 380 milhões de litros em 2019 para 500 milhões de litros no último ano, o que permitiu elevar o consumo per capita do brasileiro de 2 para 2,6 litros de vinho/ano. Nos últimos 12 meses, de outubro de 2020 a setembro de 2021, o mercado movimentou 492,5 milhões de litros, volume 2% superior ao mesmo período de 2019/2020.

Chegou a hora de brindar! - Em 2020, os eventos foram cancelados, as pessoas ficaram isoladas em casa, as festas e os encontros com amigos foram substituídos por lives. Esta mudança no comportamento refletiu diretamente na retração da venda de espumantes naquele período, enquanto o vinho fino acelerou. Este ano, o retorno dos eventos e a aceleração da imunização já causaram forte impacto na comercialização dos espumantes. Os moscatéis lideram o crescimento com 58,26% entre os meses de janeiro a setembro quando comparado aos nove meses do ano passado e 100,79% no mesmo intervalo de 2019. Apesar de um percentual menor, os espumantes brut também registram resultado positivo com alta de 53,08% em relação ao ano anterior e 38,92% frente a 2019. Estes são os dados oficiais da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), com base no Sistema de Cadastro Vinícola da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul e do Ministério da Agricultura.

 ?O espumante é uma bebida festiva, comemorativa, ideal para brindar e 2020 foi um ano muito triste e difícil em razão da pandemia do Coronavírus. Agora, estamos cheios de esperança, acompanhando uma retomada mais segura. As pessoas querem brindar a vida, o reencontro, as amizades. Assim, as borbulhas voltam a ganhar destaque e o vinho vem mantendo sua performance. Esperamos que esta atuação persista e que os brasileiros continuem descobrindo a produção local?, destaca o presidente da Uvibra, Deunir Luis Argenta.

Com perspectivas de alcançar o desempenho de venda de 2019, com 22,4 milhões de litros de espumantes, a Uvibra está otimista diante da aceleração. A entidade acredita que os 15,6 milhões de litros já vendidos este ano possam chegar ao volume desejado até o final de dezembro. ?Se alcançarmos 2019 estaremos felizes. Até aqui estamos superando, mas precisamos confirmar as vendas até o final do ano?, garante Argenta.

A Vinícola Salton registra nos nove meses deste ano um acréscimo de 20% na receita, puxado pelos espumantes. No período, a marca vendeu 1,65 mi de garrafas a mais que em 2020. ?Enxergamos um crescimento exponencial dos espumantes, esperando superar o horizonte de 35% até o final deste ano?, projeta o diretor-presidente, Maurício Salton. Os espumantes representam 45% do negócio da Salton.

A Cooperativa Vinícola Garibaldi, que em 2020 registrou crescimento na comercialização de vinhos (20%), frisantes (145%) e espumantes (9%), além de um aumento de 12% no faturamento, prevê encerrar 2021 com um incremento de 30% na venda de espumantes, uma projeção positiva, apoiada nos bons resultados do primeiro semestre do ano. O último trimestre ? outubro a dezembro ? é um dos mais férteis para a Garibaldi, que espera alcançar 35% do seu faturamento anual neste período, chegando a R$ 220 mi, 17% a mais que no ano passado.

Para Adriano Miolo, Diretor Superintendente da Miolo, o brasileiro descobriu o vinho nacional durante a pandemia. E, hoje, sua percepção da qualidade desse vinho já é outra. ?Chegamos a um novo cenário e isso é muito bom. Com a alta do dólar, os rótulos nacionais ganharam competitividade e mais atenção do consumidor, que passa a perceber que qualidade e bom preço andam juntos. Dependendo do momento, temos vinhos e espumantes para todos os bolsos, gostos e estilos. Acreditamos que este aumento de consumo será mantido se tivermos competitividade diante de um mercado que não para de crescer e é movido por novidades?, acredita Adriano.

De acordo com o enólogo da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Ricardo Morari, existe um conjunto de fatores que contribuem para o sucesso consistente do espumante nacional. O principal, talvez, seja a adaptação das uvas utilizadas ? Chardonnay, prosecco, moscato, riesling, entre outras ? ao terroir, ao solo brasileiro e principalmente gaúcho. Esse casamento perfeito, de solo e clima com as frutas, é imprescindível para o resultado final, conforme explica o profissional. ?A amplitude térmica, com noites frias e dias quentes, favorecem a maturação lenta das uvas, formando açúcares e degradando os ácidos aos poucos?, explica.

O resultado, também conquistado através de muita pesquisa e inovação tecnológica, é um espumante balanceado, com destaque para a acidez e o alto frescor. ?Esses fatores facilitam uma qualidade consistente nessa elaboração da bebida. Independente da safra a gente consegue ter uma qualidade muito regular, muito mais sólida', complementa.

Desafios do vinho - Mesmo em crescimento, a venda de vinhos finos está mais acanhada. O aumento de janeiro a setembro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado é de 9,71%. Já, em comparação a 2019 este percentual sobe para 80,44%, o que demonstra que desde o início da pandemia o vinho brasileiro vem ganhando seu espaço no mercado interno. O crescimento somente não tem sido maior em razão de problemas com a falta de insumos, especialmente garrafas, que tem atingido, também, o suco de uva.

A pandemia de Covid-19 trouxe muitas alterações econômicas, desde a relação com o trabalho, o aumento do home office e a forma de adquirir produtos e serviços, que cresceu (ainda mais) no mundo digital. Para acompanhar esse boom no ambiente digital, as empresas precisam investir em sistemas de e-commerce mais modernos e seguros ? que permitam extrair dados sobre a jornada dos usuários e criar experiências de compra ainda mais encantadoras.

Estudo da eMarketer, empresa norte-americana de pesquisa de mercado, revela um crescimento de 26,7% no comércio online em 2020, o que representa um movimento de 4,2 trilhões de dólares. Para 2021, a expectativa é que as cifras alcancem cerca de 4,8 trilhões de dólares.

Acompanhar esse mercado em constante evolução é um dos desafios a ser enfrentado pelas vinícolas e demais indústrias de bebidas no mercado mundial. ?O setor vitivinícola brasileiro é jovem se comparado ao Velho Mundo. Por isso, considero ainda um desafio fazer o consumidor brasileiro perceber e reconhecer a qualidade do vinho nacional, fato que vem acontecendo nos últimos anos. Se olharmos para outros países vemos uma maior valorização da produção local. Estamos no caminho certo. A pandemia ajudou e muito neste sentido, mas ainda temos um longo trajeto pela frente. Este contato direto com o consumidor também nos mostrou que o preconceito não está nele. Também é importante destacar que estamos ainda descobrindo novos terroirs e o vinho brasileiro não tem uma única identidade devido a essa diversidade única no mundo. Somos um país continental que pode refletir diversas personalidades, não apenas uma. Além disso, claro, a luta por uma carga tributária menos pesada segue na pauta do setor?, explica Adriano Miolo.

Criando experiências - Além dos aspectos relacionados à pandemia, o aumento do consumo de vinhos verificado em 2020 foi consequência também das ações realizadas pelas empresas para aproximar o consumidor ao mundo do vinho. Com a maioria das pessoas presas em casa, foram muito bem-vindas as harmonizações, jantares, cursos e outros eventos online colocando o vinho como protagonista e parceiro em todos os momentos da vida.

Agora, com a situação sanitária mais equilibrada, os eventos presenciais voltam a acontecer e as vinícolas recebem seus visitantes novamente.

Entre essas ações, destaque para a abertura da cave da família Miolo aos visitantes, um roteiro exclusivo para vinhos com Denominação de Origem Vale dos Vinhedos para grupos de oito pessoas.

O patrimônio de 32 safras da Vinícola Miolo está engarrafado e guardado numa sala subterrânea de pouco mais de 10 metros quadrados. Permanecendo fechada praticamente durante todo o ano, a Cave da Família Miolo guarda verdadeiros tesouros. Na nova experiência, o visitante poderá degustar os vinhos com Denominação de Origem Vale dos Vinhedos: Miolo Lote 43, Miolo Merlot Terroir, Miolo Cuvée Giuseppe Cabernet Sauvignon / Merlot e Miolo Cuvée Giuseppe Chardonnay.

?Escolhemos o 'coração' da vinícola para degustar vinhos com a legítima tipicidade do Vale dos Vinhedos. Esta experiência vai mudar a percepção de muitas pessoas que terão a oportunidade de conhecer o processo e como esta certificação reconhece um trabalho de anos entre a terra e o homem. É a identidade viva do Vale dos Vinhedos em garrafas de vinhos, resultado que buscamos incessantemente ao longo da nossa história. Investimos tempo e dedicação para poder contar e compartilhar com nossos visitantes o melhor do nosso sonho, hoje realidade?, destaca o diretor superintendente da Miolo.

Cultura e vinho - Outra experiência incrível proporcionada, recentemente, aos apaixonados por vinho aconteceu em São Paulo na Casa de Cultura do Parque sob os cuidados da Chandon do Brasil. A Exposição Casa Chandon teve como temas principais a viticultura, diversidade e otimismo, um projeto assinado por Guto Requena, que traduziu em cores, imagens, texturas e mobiliário o espírito Chandon ? alegre, elegante e sonhador.

*Revista Engarrafador/Carlos Donizete Parra